As reações contra o bullying

Por André

E mais uma triste história envolvendo chacota (afinal, se há termo em português para isso, pra que usar o equivalente em inglês?), desta vez por via cibernética, envolvendo falsa amizade e um alvo com doença grave e quem já teve (ou mesmo teve parente próximo que teve) sabe o tamanho do sofrimento.

Alguns mostraram-se renitentes quanto à história de o MP lutar para criminalizar tal coisa mas, já que partem do princípio de se postar ao lado do mais fraco, deveriam se lembrar que quem mais sofre nessa história toda é justamente aquela pessoa que é obrigada a se fazer forte e insensibilizada por causa das ameaças constantes que a cercam. Deveriam apoiar a postura que o MP sul-mato-grossense, liderado por Sérgio Harfouche, tomou ao obrigar valentão(ona) a capinar jardim e outras coisas e, subsequentemente, recriminar a postura do Ministério do Trabalho de querer acabar com isso.

Aliás, essa postura do MP pantaneiro é inclusive primeiro-mundializante, uma vez que análoga ao que me contou uma estagiária em meu ex-emprego, que quando era dimenó morava na Suíça, fez um auê e foi condenada pela justiça local a catar folhas secas (algo bem adequado àquilo que fez, que não era assim tão grave, e ao ambiente, que tem outono digno de tal denominação). Findo isso, deu para ver que a menina pôs a mão na cabeça, refletiu bem e, jovem adulta e já de volta ao país natal, agia com muito mais civilidade e menos frivolidade que a média dos jovens de sua idade, sinal de que as folhas catadas foram oportunidade para dar uma volta na própria mente.

No caso do que ocorre na terra onde o tereré é patrimônio imaterial, houve uma belíssima redução no número de vandalismos, agressões e uso de drogas, e tudo isso o pessoal do Ministério do Trabalho está querendo jogar no lixo. Falam que o tal trabalho para dimenó é insalubre, mas digam-me o que há de insalubre em, por exemplo, aparar a grama? Será que todos nós aqui tivemos gravíssimos problemas em ajudar nossos pais a fazer pequenas tarefas enquanto éramos dimenós? Ou será que essas oportunidades, claro que moderadamente aplicadas, não foram momentos de ouro para que começássemos a ver que quando é para nós suarmos o rosto passamos a valorizar as coisas conquistadas?

E nesse ponto, a iniciativa de Sérgio Harfouche e seus colegas tem um ponto interessante por mostrar a quem pinta o sete no estabelecimento de ensino que aquilo lá não é de graça, mas sim pago pelo imposto de seus pais e pelo imposto dos produtos que ele próprio consome. Se estamos vendo a civilidade surgir, é sinal de que a coisa vem dando certo.

Voltando para a menina em questão, notem o insidioso do lance, que foi de uma garota se passar por amiga da que estava doente e postar uma série de ameaças. Justine teve um câncer  e perdeu uma perna, situação que inegavelmente gera dificuldades e é merecedora de nossa atenção (e aqui não devemos confundir com endeusamento) no sentido de nós nos pormos no lugar de quem está naquela situação. A frieza do lance foi tanta que a pobre Justine continuou acreditando que a bandidinha (e digna de tal nome, porque ameaça é crime justamente por envolver mal possível e realizável) era amiga. Porém, como vemos, a “irmã camarada” praticamente usou a convalescente (aqui usando esse termo porque só se considera alguém curado do câncer depois de cinco anos sem manifestações. Justine tratou-se aos 11 e tem 14) de cobaia. Imaginem o tamanho da sensação que a menina teve.

Destaque aqui para a postura da escola, que culpou quem tinha de ser culpada e não a inocente (como é tão comum por aqui), expulsando-a e fazendo toda a parte que lhe é possível para que não tenham mais contato. Sobre a pena, em que pese ela ser mais rigorosa que a daqui, ainda foi considerada branda pela família de Justine. E não seria por menos se pensarmos que dá para notar uma nítida consciência da agressora em planejar tudo. Por ora, a inimiga íntima foi condenada a serviços comunitários e obrigada a passar por terapia. De minha parte, preocupo-me pelo fato de haver demonstrado sofisticação na realização da coisa.

E quantas Justines temos por aqui sofrendo coisas parecidas? Também continuo pensando como deve estar a vida de Vitor Dutra Gumieiro, do qual falei há dois anos no blog antigo, postagem essa replicada aqui (grato ao cara que replicou, senão teria sido perdida). Hoje ele deve estar pelos 11 anos, idade em que se começa a ficar mais independente, e espero que tenha tido uma boa assistência para remeter as feridas que três coleguinhas fizeram à sua mente (uma vez que as físicas fecham-se mais rapidamente). Já cheguei a falar desse caso com uma pedagoga dessas que acham que criança é anjo de candura independente do que faça e a resposta que recebi dela foi “não quero ler isso” e que já tem muita notícia ruim por aí. E isso porque era uma notícia que diz respeito à profissão dela. Obviamente que jamais confiaria um(a) filho(a) que eu tivesse a alguém que usa óculos com lentes cor-de-rosa e se recusa a ver a realidade nua e crua, pois seria o silêncio dos bons garantindo o triunfo dos maus.

Enfim, segue a notícia (e espero que um tijolo rumo à erradicação de tal prática, nem que seja na base do potencial agressor sendo dissuadido pelo medo do que lhe vai acontecer):

22/04/2011 – 08h54

Adolescente vítima de câncer descobre que ‘bully’ por trás de ameaças era ‘melhor amiga’ 

Uma adolescente americana que conseguiu superar um câncer voltou a dar a cara contra uma nova batalha, o bullying cibernético.

Justine Williams, 14, teve de conviver semanas com um estranho que lhe enviava mensagens hostis pela internet e pelo celular, até descobrir, para sua surpresa, que o ‘bully’ – responsável pelo bullying contra ela – era uma de suas melhores amigas da escola.

O caso repercutiu no subúrbio de North Andover, nos arredores de Boston. A vida pessoal de Justine já tinha sido notícia na localidade depois que, aos 11 anos de idade, ela conseguiu superar um câncer.

Na batalha contra a doença, a jovem perdeu uma perna e hoje anda com ajuda de uma prótese.

“Fizemos tanto esforço para empurrar Justine para frente, para superar o câncer, as cirurgias múltiplas, e agora esta criança dá mais um passo atrás…”, disse a mãe, Jane, em uma entrevista à rede CNN local, Canal 5.

Em fevereiro deste ano, a estudante, que está no último ano do ensino médio, começou a receber mensagens com conteúdo ameaçador, como “Vou estuprá-la”, “Vou colocar uma bomba na frente da sua casa” e “Vou matar seus animais”.

“Eu me sentia devastada por causa delas”, disse Justine à CBS local.

A menina demorou a contar aos pais sobre as ameaças. Quando o fez, o caso foi levado à polícia de Massachussetts.

Os investigadores descobriram que a perpetradora do bullying era uma menina de 13 anos considerada por Justine como uma de suas melhores amigas.

Ela utilizava um site que ocultava a origem do número telefônico. Às vezes, enviava os textos anônimos enquanto falava com Justine através do computador, de forma a observar a reação da vítima.

Quando o caso foi revelado, a escola tirou a autora das intimidações da classe de Justine e tomou medidas para eliminar o contato entre as duas.

A jovem foi condenada a prestar serviço comunitário e a frequentar terapia por um curto período. A família considerou a pena demasiado branda.

“Se essa menina é assim no ensino médio, como vai ser quando chegar na escola secundária?”, questionou o pai, Michael.

Sobre onigor
eu igor sou um garoto que vou contar um pouco da vinha vida

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